Olhemos com carinho este conceito e carisma, já que nosso Bispo Diocesano Dom Benedito Beni em seu último documento com as diretrizes pastorais (à luz do documento de aparecida) disse que a Igreja deve ser comunidade de comunidades.
As CEBs são comunidades, uma reunião de pessoas que vivem na mesma região e possuem a mesma fé. São eclesiais, porque estão unidas à Igreja. São de base porque são constituídas de pessoas das classes populares. Localizam-se em geral na zona rural e na periferia das cidades. Organizam-se em torno das paróquias ou capelas por iniciativa de leigos, padres oubispos.
Segundo Frei Betto,[1] as CEBs são uma nova forma de organizar a pastoral. Tradicionalmente, a pastoral da Igreja Católica é organizada em torno das paróquias. As CEBs permitem que a organização paroquial se dê através de comunidades menores, onde os membros podem estabelecer laços comunitários entre si. Assim, as paróquias podem se tornar verdadeiras comunidades paroquiais.
Deve-se ressaltar que as Comunidades Eclesiais de Base não são homogêneas, dada a diversidade social e geográfica e as formas distintas de compreender e viver sua inserção eclesial e sua participação na sociedade. Correspondem a uma organização descentralizada, diferentes entre si, como resposta aos desafios sociais e eclesiais concretos. Não possuem secretariado nacional, mas uma "comissão ampliada" que faz a ponte entre os encontros nacionais (Encontros Intereclesiais) entre as igrejas particulares.[2]
Entretanto, segundo Bingemer,[3] é possível detectar quatro traços distintivos de uma CEB:
- O primeiro traço é a territorialidade: são pessoas que se reúnem por proximidade geográfica. Esta proximidade está na origem da discussão e reivindicação por serviços básicos (água, saneamento ou melhorias no bairro).
- Círculos bíblicos: os grupos se reúnem para leitura e reflexão da Palavra de Deus e confrontá-la com a vida cotidiana. Muitas comunidades iniciaram a partir destes círculos bíblicos e passaram a organizar celebração dominical, com ou sem sacerdote.
- Participação e discussão dos problemas comunitários em conselhos ou assembléias, com ampla participação dos membros.
- A partir das necessidades das comunidades, foram surgindo diversos ministérios leigos ao longo da história das CEBs: ministros da Comunhão, ministros das pastorais específicas ou grupos de alfabetização de adultos, hortas comunitárias, clubes de mães.
A partir da reflexão sobre os problemas da família, do trabalho e do bairro, as CEBs ajudaram a criar movimentos sociais para organizar sua luta: associações de moradores, luta pela terra e também o fortalecimento do movimento operário.
Origens
Normalmente se considera que sua origem se deu no começo dos anos 1960, como resultado da experiência de catequese popular em Barra do Piraí (1956) ou do Movimento da Diocese de Natal, ou ainda do Movimento de Educação de Base. Sua gestação e nascimento se deram no contexto mundial da Guerra Fria, quando o mundo era dividido entre o bloco comunista e o bloco capitalista.
Uma das motivações iniciais era suprir a ausência de padres nas regiões onde os desafios eram maiores, nas quais os batizados não tinham nenhum contato com um processo de evangelização. A auto-organização leiga preencheria esta lacuna, sob a autoridade do bispo local.
Não se pode negar a influência do esforço da Ação Católica na questão da cidadania, os esforços de renovação pastoral do Movimento para um Mundo Melhor e dos Planos de pastoral da CNBB - Plano de Emergência e Plano de Pastoral de Conjunto - e também a rearticulação da pastoral popular após o golpe militar de 1964.
As conferências católicas de Medellín (1968) e de Puebla (1979) colaboraram decisivamente para sua evolução. Medellín preencheu o imaginário eclesial com a temática da Libertação e Puebla com a evangélica opção preferencial pelos pobres.
Características
As CEBs se constituem de grupos de pessoas (em torno de 20 a 80) que, morando no mesmo bairro ou nos mesmos povoados, se encontram para refletir e transformar a realidade à luz da Palavra de Deus e das motivações religiosas.
A partir de sua organização elas começavam também a reivindicar pequenas melhorias nos bairros, mas, ao mesmo tempo, iniciavam uma caminhada para tomar consciência da situação social e política. Queriam a transformação da sociedade. Inspiradas no método "Paulo Freire" de alfabetização de adultos, executavam uma metodologia que levasse da conscientização à ação.
Por suas características ecumênicas, o movimento extrapolou os limites da Igreja Católica e as comunidades passaram contar com representantes também de igrejas como Metodista, Luterana e Presbiteriana.
Os membros das CEBs no Brasil se encontram periodicamente nos chamados "Encontros Intereclesiais", sendo que o mais recente deles é o 12º Intereclesial - Arquidiocese de Porto Velho (Rondônia), aconteceu dos dias 21 a 25 de julho de 2009, como TEMA: "CEBs: 'Ecologia e Missão'" e o LEMA: "Do Ventre da Terra, o grito que vem da Amazônia".]. Reuniu quase 4 mil delegados das comunidades de base, 420 religiosos, 380 sacerdotes, 50 bispos católicos e dois anglicanos, 48 pessoas de outras igrejas cristãs, entre as quais 23 pastores, representantes de 32 povos indígenas e crentes da cultura e espiritualidade afro-brasileira.Somando com voluntários para a preparação e equipes organizadores passou de 6 mil fieis.[4]
Em 2000 existiam cerca de 70 mil núcleos de Comunidades Eclesiais de Base no Brasil, nas cidades e no campo, segundo o Instituto de Estudos da Religião (Iser), do Rio de Janeiro. Uma pesquisa realizada por Pierrucci e Prandi[5]indicam a existência de 1,8 milhões de católicos adultos atuantes nas CEBs, de um total de 14 milhões que participam de algum movimento católico organizado.
Opção preferencial pelos pobres
A Opção preferencial pelos pobres foi a principal deliberação do CELAM de Medelin, onde a Igreja da América Latina expressou de forma explícita a sua preocupação com relação a grande maioria da população deste continente, que vive em condição de miséria. A Igreja busca então cumprir a missão de Cristo que afirma: "Eu vim para que as ovelhas tenham vida e para que a tenham em abundância" Jo 10,10. Entretanto no CELAM de Aparecida, realizado em 2007, o Papa Bento XVI afirmou não ser correto o termo "opção preferencial" pois o próprio cristianismo se baseia na preferência pelos pobres, sendo que se não há opção preferencial não há cristianismo. Desta forma o termo foi corrigido para apenas: opção pelos pobres. O Papa também destacou que apesar desta afirmação os ricos não são exclúidos da Igreja, porém para serem incluídos estes devem também fazer a sua opção pelo pobre.
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