Dimas, o bom ladrão, foi de uma sabedoria impressionante lá no Calvário. Com efeito, ele não pediu nada determinadamente, mas assim se dirigiu a Cristo: “Lembra-te de mim quando vieres com teu reino”. Neste caso Ele nos ensina que é de Deus o dar e dar o que é melhor. Quando esperamos do Ser Supremo a graça, supomos que Sua liberalidade infinita pode nos amparar.
Quando, porém, não especificamos o que queremos honramos Sua sabedoria. Quantas vezes nos dirigimos a Deus mais exigindo do que pedindo.
Quando, porém, não especificamos o que queremos honramos Sua sabedoria. Quantas vezes nos dirigimos a Deus mais exigindo do que pedindo.
Com Dimas deveríamos apenas apresentar o problema ao Todo-Poderoso e deixar a Ele a solução. Muitas vezes, o homem quer enquadrar Deus nos seus limitados esquemas mentais e, por isso, em vez de obter mais, recebe menos. Dimas solicitou apenas uma lembrança e ganhou o Paraíso! Impetrou uma recordação e foi envolvido numa absolvição geral de suas culpas. Observemos ainda que ele não determinou nem o dia nem a hora da reminiscência de Jesus: “Quando estiveres”, mas é logo atendido: “Hoje”.
Antes, a mãe dos filhos de Zebedeu pedira que Tiago e João estivessem assentados à direita e à esquerda do grande Rei. Dimas é bem mais modesto: quer apenas ser lembrado e tem a garantia do que mais devemos aspirar: ganhar um lugar no Paraíso!
Que diálogo foi mais expressivo do que este entre dois crucificados? Como um deles era o Senhor Onipotente uma cruz se transformou em altar; um pecador, em um santo; um proscrito em um eleito. Dimas forçou a primeira canonização da História com seu gesto de confiança e humildade, de arrependimento e santo desejo.
Dimas foi extremamente objetivo e com cinco ideias ele conquista o céu: “Lembra-te de mim quando vieres com teu reino”.
Estas cinco ideias expressas com cinco palavras o jogou nas cinco chagas redentoras de Nosso Senhor Jesus Cristo, portas gloriosas daquele reino que ele então brilhantemente conquista.
É impressionante esta conversão de Dimas porque, ao contrário de muitos, ele não presenciara os prodígios estupendos que Cristo fizera. Ele não estivera no Tabor contemplando as glórias do Transfigurado. Ele não vira Jesus andando sobre as águas. Ele não escutara a voz do Pai lá no Jordão nem ouvira o testemunho do Batista sobre o Cordeiro de Deus. Que surpresa! Os agraciados ausentaram-se, os amigos esconderam-se, as autoridades religiosas injuriam, soldados romanos martirizam, Cristo é condenado e desprezado e apenas um ladrão naquele instante o reconhece como Rei poderoso! Misterioso é sempre o encontro de Jesus com a alma do homem.
Poderosa a influência da graça no coração arrependido. Conversão admirável, pois Dimas aceita contrito o castigo em reparação de seus crimes: “Estamos pagando por nossos atos”. Faz um ato de fé, pois acredita na soberania do Divino Crucificado. Faz-se um pregador do bem, pois tenta converter a Gestas: “Não temes a Deus”?
Feliz Dimas que abriu as portas de seu coração à influição de um chamado celeste e depositou uma esperança em Jesus e Lhe arrebatou o perdão, ganhando a primeira indulgência plenária advinda do sacrifício redentor. Nas encruzilhadas da vida
Cristo continua Seus encontros com os filhos dos homens. Neles está sempre a repetir para os que O aceitam: “Hoje estarás comigo no Paraíso”. Cenas maravilhosas da adesão do ser racional à Sua redenção.
De todas as verdades teológicas e filosóficas uma das mais complexas é a conciliação da liberdade humana com a Onipotência e a Onisciência Divinas. O tratado da graça é um dos mais difíceis de toda a Teologia.
Regulando nossos destinos por um sistema de sabedoria que ultrapassa a capacidade cognoscitiva da razão humana, o Ser Supremo assiste o desenrolar dos atos do homem e só Ele sabe até que ponto pode chegar a malícia de cada um para fechar definitivamente as vias do perdão e da clemência.
Como o homem é livre ele pode, no encontro com Jesus, ou repetir o gesto de Dimas e conquistar o céu ou reeditar a postura de Gestas e não aceitar a salvação, desejando prosseguir no erro e nas trevas.
Um dia, assentado à beira de um poço, Cristo aguardou a Samaritana e a redimiu. Encontro sublime tantas vezes repetido em Sua passagem por este mundo, como ocorreu com Zaqueu, Mateus, Madalena e tantos outros. Tais encontros se prolongariam, século após século, por meio do mistério da graça divina a visitar as consciências. A milhares Ele está a reiterar a sentença gloriosa: “Hoje estarás comigo no Paraíso”.
Na estrada de Damasco alguém que odeia a Cristo se encontra frente a frente com Ele e, então, já não existe mais Saulo, mas o grande apóstolo Paulo. Foi isso que escutou Santo Agostinho, quando, por força das preces de sua santa mãe, Mônica, se voltou para Deus.
Do mesmo modo, nas trevas de uma existência trevosa, uma jovem de Cortona, na Itália, andava pelas sendas do mal. Ei-la um dia diante do cadáver de alguém que fora assassinado. Interroga-se: “Onde estará sua alma”? Converte-se e se torna Santa Margarida de Cortona.
Os fatos se multiplicam nas crônicas dos grandes convertidos que repetiram a atitude de Dimas. Nas agras regiões da vida, dificultadas pelos espinhos da culpa, devastadas pelas tempestades do pecado, ainda que perdido no mais profundo abismo de seus erros, sempre que, num gesto de confiança, alguém se voltar para Cristo com sincero arrependimento, imediatamente, ouvirá a palavra de paz, de conforto, de luz, de salvação, conquistando o Paraíso.
Estejamos, porém, alertas porque se Dimas viveu mal e morreu muito bem, os que contemplam os prodígios da Misericórdia Divina e se acham imersos nos favores celestes não podem facilitar, pois Cristo foi muito claro: “Vigiai, portanto, pois não sabeis o dia nem a hora” (Mt 25,13).
Cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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